Como vimos no último post blog sobre a Coleta Seletiva na cidade do Rio de Janeiro, sabemos que há uma coleta pública dos resíduos recicláveis que geramos. No Rio, a COMLURB é o órgão responsável por ela.
Ainda assim, muitas pessoas acabam atuando na coleta seletiva e na reciclagem por necessidade própria e se dedicam a essa atividade para criarem seu sustento.
Infelizmente, no Brasil, a nossa cadeia recicladora se sustenta muito mais por questões de sobrevivência do que por uma consciência ambiental ou por investimentos da indústria e poder público. No post anterior, mostramos alguns dados que revelam isso. Um deles, por exemplo, é que a maior parte dos catadores deixaria de ser catador se tivesse oportunidade de exercer outra atividade. Muitos sentem vergonha do que fazem.
Mas será que as nossas práticas diárias, minha e sua, não acabam reforçando essa lógica de injustiça e exclusão?
Talvez sim.
Os Catadores de Materiais Recicláveis
Ainda que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tenha reconhecido os catadores como atores fundamentais dentro da gestão de resíduos recicláveis, na prática, o trabalho desses agentes ainda acontece em condições insalubres e precárias.
Os catadores, seja em cooperativas ou de maneira autônoma, são responsáveis por uma enorme parcela da coleta, triagem e processamento dos recicláveis no Brasil.
Segundo dados do Instituto de Energia e Ambiente da USP, em cidade de até 100 mil habitantes, os catadores são responsável pelo processamento de mais de 60% dos resíduos. E em média, nos grandes centros urbanos, são responsáveis por mais de 37% do recolhimento, enquanto as prefeituras recolhem apenas 18,7%.
Mesmo assim, são poucos os grupos e coletivos que conseguem sustentar bem os seus negócios exercendo essa atividade.
A atividade de catador é reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego desde 2002 e contribui para o prolongamento da vida útil de aterros sanitários, para a diminuição da demanda por recursos naturais e na substituição do uso de matérias-primas virgem. Infelizmente, esse serviço ambiental prestado é extremamente mau remunerado, precário e ingrato. Além das dificuldades da profissão, os catadores ainda passam por muito preconceito.
Como muitas pessoas precisam dessa atividade para sobreviver, em geral, muitos catadores aceitam ganhar o que for pelo resíduo. Por outro lado, quem não conhece a fundo a nossa cadeia da reciclagem acaba ingressando em uma lógica (quase perversa) de vender os recicláveis para catadores e ferro-velhos.
Em paralelo, às grandes indústrias fabricantes desses resíduos, e que também são co-responsáveis por esses materiais, investem pouco em um sistema de logística reversa efetivo.
Todos esses ingredientes juntos sustentam uma cadeia da reciclagem marcada pela informalidade e na precariedade. E isso prejudica a todos.
Não são apenas os catadores individuais e ferro-velhos que se veem amarrados a esse sistema, sem opções de melhorar a própria condição de trabalho e vida. Muitas cooperativas e associações de catadores formalmente constituídos também sofrem diariamente com os efeitos colaterais dessa engrenagem.
Diversas cooperativas, por exemplo, tem investido, há anos, em organização, formalização e infra-estrutura e tem lutado politicamente pelos direitos da categoria, mas ainda precisam lidar com a falta de reconhecimento.
Mais do que isso, eles precisam “remar contra a maré” mostrando que o trabalho que fazem é um serviço ambiental que precisa ser remunerado. Não são raras as vezes que uma cooperativa faz um orçamento para um serviço de coleta e triagem de recicláveis (também para empresas) e recebe a seguinte resposta: “Ah, mas se é pra pagar, eu prefiro doar para o catador da rua”.
Sim, a competição é desleal e todos perdem, tanto o catador de rua quanto as cooperativas, que continuarão lutando para reverter esse jogo e manter seus negócios em pé. Nós perdemos enquanto humanidade.
Ainda hoje, apesar de muitas empresas e pessoas já reconhecerem a importância desse trabalho, a maioria das cooperativas ainda se mantém única e exclusivamente a partir da receita obtida com a venda do material reciclável.
Mas, cada vez mais, fica claro que essa receita é insuficiente para custear todas atividades da cooperativa e para permitir o crescimento do negócio. Muitas vezes as contas não fecham! Os custos operacionais e administrativos são altos e as receitas não cobrem todos os gastos, principalmente quando levamos em conta todas obrigações legais, incluindo, por exemplo, os fundos obrigatórios e o INSS dos cooperados.
Um estudo de caso recente apresentado por dois alunos Escola de Química da UFRJ demonstrou a fragilidade financeira em que estão inseridas as cooperativas de catadores.
Como transformar essa realidade?
É aqui que a gente entra, e é por isso que a gente cobra por esse serviço.
A Teiares vivencia a realidade das cooperativas de catadores há muitos anos. Conhecemos os bastidores e diversas práticas naturalizadas que prejudicam não só para esse grupo, mas toda a cadeia de reciclagem.
Por isso parte do valor cobrado pela Teiares é destinado a cooperativas parceiras. Desta forma, contribuímos para saúde e sustentabilidade financeira desses grupos. Acreditamos que esse é um passo importante para o desenvolvimento das cooperativas. Assim reduzimos a insegurança financeira dos catadores e ajudamos na criação de uma estabilidade mínima, fundamental para que o coletivo possa vislumbrar um futuro sem amarras e medos e repleto de possibilidades.

Dados relativo às duas últimas coletas domiciliares feitas pela Teiares.
Queremos construir e fomentar uma Economia Circular que seja justa para todos, por isso os catadores estão no centro do nosso negócio!
Valorizar e remunerar o trabalho dos catadores e atuar no desenvolvimento das cooperativas faz parte da nossa essência. Isso é um direito deles e uma responsabilidade da nossa sociedade.
Mais do que isso, é uma necessidade. Não há como avançarmos na sustentabilidade urbana e na cadeia de logística reversa pós-consumo sem integrarmos de maneira mais justa esses atores.
Acreditamos em um novo modelo de Coleta Seletiva e Logística Reversa Pós-Consumo, mais participativo e sustentável e que permita o crescimento e desenvolvimento de todas as pessoas envolvidas nesse processo.
Você pode ser parte dessa construção! Entre em contato conosco.
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