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O que o documentário "Desserviço ao Consumidor" diz pra gente?

Pensando em juntar o momento de lazer no fim do dia à uma proposta de reflexão socioambiental, a equipe Teiares gostaria de indicar um filme para você. O documentário “Desserviço ao Consumidor” da Netflix vale a pena ser assistido.

No documentário, especialmente no episódio 4 "A Farsa da Reciclagem", vemos como as grandes indústrias do ramo petroquímico introduziram os plásticos descartáveis no mercado, incentivando seu uso até os dias de hoje, mas sem estabelecer uma logística reversa efetiva para seus produtos. Ou seja, sem ser responsável pelo retorno desse material para a cadeia produtiva. Afinal, se um item de plástico foi produzido e a intenção é reciclá-lo, ora, esse item precisa retornar para a indústria. Mas não é o que acontece na maior parte das vezes. Esses resíduos vão parar em Aterros, lixões, mares, rios e florestas. A sociedade, no fim, acaba se tornando uma vítima dos passivos socioambientais gerados por essas indústrias e seus produtos. .

Reciclagem de plásticos no Brasil

É o que os números de reciclagem de plástico no Brasil e no mundo demonstram. O Brasil é hoje o quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, segundo dados do Banco Mundial. São 11,3 milhões de toneladas por ano , das quais somente 1,28% são recicladas. No mundo, a taxa de reciclagem de plásticos é maior, mas não passa muito de 9%. Isso demonstra um sistema ainda falho no que tange a viabilidade técnica de processar alguns materiais plásticos e a consolidação de sistemas de logística reversa para esses materiais. É o que vem à tona no documentário: por mais que as indústrias digam que o plástico é reciclável, muitos plásticos ainda não são, de fato, RECICLADOS. E isso acontece, em parte, por falta de investimentos dessas indústrias.

No Brasil, ainda faltam tecnologias e sistemas estruturados para absorver muitos materiais amplamente encontrados no mercado. É o caso do Polipropileno bi-orientado (BOPP) metalizado e a da garrafa PET leitosa, utilizada em bebidas lácteas. Esses materiais, apesar de amplamente produzidos pela indústria do plástico, ainda carecem de mecanismos para que retornem à cadeia produtiva de forma a serem reutilizados pela indústria. No caso do BOPP, sequer há tecnologia no Brasil para o processamento em larga escala. Eles acabam sendo destinados a aterros ou vão parar em lixões, rios e mares, gerando impactos ambientais e sociais. E quem paga a conta desses prejuízos?

Impactos sociais

O filme é uma aula não só sobre reciclagem, mas também sobre racismo ambiental. Afinal, os passivos socioambientais gerados pelo descarte indevido do plástico e de outros resíduos recai de maneira desigual sobre diferentes populações. Países com legislações ambientais mais “frouxas” acabam sendo o destino desses resíduos. Sua população é diretamente afetada, tendo em vista que esse resíduo não é tratado adequadamente e expõe a população a riscos. É a triste realidade que o documentário mostra, através do caso da Malásia. O país passou a ser o destino de toneladas de resíduos plásticos desde que a China vetou a importação desse material. Entretanto, grande parte desse material chega ao país ilegalmente ou é processado sem os devidos controles ambientais. Os impactos são avassaladores e prejudicam o ecossistema e a população local

Novo Termo de Compromisso das gigantes do mundo das embalagens

Ao assistirmos o documentário, foi inevitável traçarmos um paralelo com algumas discussões recentes que aconteceram no Brasil.

Em maio deste ano, seis gigantes do mundo das embalagens, Coca-Cola, AMBEV, TETRAPAK, Nestlé, Unilever e Kaiser & HNK BR, propuseram um Termo de Compromisso ao Ministério do Meio Ambiente. Ao que tudo indica, o objetivo é que ele viesse substituir o Acordo Setorial de Embalagens para essa empresas. A grande questão é que esse Termo de Compromisso não fala (quase) nada sobre a estruturação e implantação de um Sistema de Logística Reversa que, de fato, garanta o retorno das embalagens à indústria recicladora. Ele fala de muitas outras coisas, como reciclabilidade e reuso, mas de operacionalização da Logística Reversa mesmo, muito pouco!

E eis aqui o paralelo que fazemos com o documentário: a indústria produz a embalagem, mas não se responsabiliza efetivamente pelo retorno da mesma ao ciclo produtivo, através de investimentos concretas. É como colocar o símbolo de “reciclável” na embalagem, mas não investir, de maneira robusta e sólida, para que a reciclagem aconteça.

O assunto foi pauta para um intenso debate, envolvendo, inclusive, a Associação Brasileira de Membros do Ministério Público do Meio Ambiente (ABRAMPA) que se posicionou contrária ao Termo através de uma nota técnica.

Além da ABRAMPA, outros grupos se posicionaram contra o Termo proposto, já que ele isentaria as empresas das responsabilidades e metas assumidas no Acordo Setorial de 2015 sem prever novas obrigações no que tange a estruturação de uma cadeia de logística reversa.

O Termo de Compromisso ficou aberto para consulta pública até dia 06/07/2020 e a Teiares fez questão de fazer suas contribuições. Agora, estamos acompanhando o andamento do processo para saber como se moldará o futuro da nossa cadeia recicladora.

Afinal, quando falamos de reciclagem, falamos também do futuro do nosso país!


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