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Assinatura de coleta de recicláveis

Hanna Rodrigues

Proposta de enfrentamento ao Covid-19 em parceria com catadores de materiais recicláveis.


Desde a chegada do Covid-19 no Brasil, a Teiares sentiu a necessidade de se mobilizar para apoiar os catadores de materiais recicláveis que estão sendo diretamente impactados pela pandemia. Primeiro lançamos, em parceria com cooperativas, amigos e empresas, uma campanha na Benfeitoria com o objetivo de arrecadar recursos para comprar cestas básicas para catadores do Rio de Janeiro.


A campanha foi um sucesso e conseguimos arrecadar mais de R$ 24.000,00 que foram revertidos em 150 cestas básicas + Kits de Limpeza e a doação de R$ 600,00 para duas cooperativas de catadores. Todos os detalhes sobre essa ação você pode conferir na nossa postagem “3 aprendizados de uma campanha de financiamento coletivo”.


Mas a gente sabia que precisaria ir além.


Sabíamos que as cestas básicas e as doações resolveriam o problema do agora, mas não do futuro.


Afinal, seria possível gerar impacto a médio prazo em meio a quarentena? Seria possível pensar em alguma estratégia que permitissem a retomada das atividades das cooperativas com mais sustentabilidade, deixando, de fato, um legado a médio/longo prazo?


Foi com esse olhar no horizonte que passamos analisar o cenário atual e os desafios que ele nos impõe, mas também as oportunidades escondidas por trás dessa névoa.

Foram dois os pontos de partida para a nossa reflexão: Primeiro, o que está acontecendo com as cooperativas. Segundo, o que está acontecendo na casa das pessoas.

Os dois pontos se conectam de uma maneira única na cadeia da reciclagem, através do fluxo de resíduos recicláveis. Pessoas consomem e utilizam produtos, descartando-os sobre a forma de resíduos. Catadores e cooperativas coletam e processam esses resíduos e geram receita a partir da matéria-prima reciclável. O descarte de um é fonte de receita para outro. É através desse ponto de contato que consumidores e catadores se conectam na cadeia recicladora e fazem girar o ciclo de vida dos produtos Ambos os elos – assim como todos os outros que compõem essa cadeia- precisam estar funcionando bem e em sinergia para que esse fluxo se mantenha saudável e para que matéria-prima retorne à indústria.


Eis que a pandemia veio estremecer a nossa cadeia recicladora. Muitas cooperativas de catadores, os atores mais vulneráveis dessa engrenagem, pararam suas atividades logo que o Covid-19 chegou ao Brasil. No Rio, alguns coletivos de catadores estão com as atividades paralisadas desde 20 de Março. Dentre os principais motivos para a paralisação estão:


1. Risco de contaminação por Covid-19 a partir do manuseio dos resíduos sólidos:

Muitas cooperativas não conhecem a procedência exata do resíduo que triam e tem receio de que o material reciclável esteja contaminado. Por estarem expostas a materiais potencialmente contaminados, muitas preferiram interromper as suas atividades a expor os seus cooperados. Além disso, a realidade e as condições de trabalho em que as cooperativas e os catadores estão inseridas, muitas vezes, dificulta o distanciamento entre os cooperados , o uso de EPIs adequados ou mesmo a possibilidade de deixar o resíduo em quarentena antes da triagem. Todos esses fatores atrasam a volta das atividades.


2. Cooperados no grupo de risco:

Muitas cooperativas têm em sua equipe de trabalho pessoas no grupo de risco, como cooperados acima de 60 anos e com doenças cardiovasculares, que foram as primeiras a serem afastadas da cooperativa.


3. Queda brusca no valor de comercialização dos materiais recicláveis:

Outro fator que afetou e ainda afeta diretamente a retomada das atividades das cooperativas de catadores durante a pandemia é o baixo valor de comercialização dos resíduos sólidos. Segundo alguns dados obtidos a partir das próprias cooperativas de catadores, houve queda de até 50% no valor de comercialização de alguns plásticos, o que inviabiliza a manutenção da operação de triagem e processamento dos resíduos sólidos. Como a maior parte das cooperativas sobrevive a partir dessa receita, se torna inviável retomar as atividades.


Por outro lado, a rotina e os hábitos do consumidor também mudaram. No início do período de isolamento social, a ABRELPE estimou que a geração de resíduos domiciliares poderia aumentar em até 25% durante a quarentena¹. De fato, uma pesquisa recente realizada pela COMLURB mostrou que a quantidade de resíduos recicláveis domiciliares coletado pela Companhia aumentou em torno de 21%, quando comparado com os dados do ano de 2019². O consumo saiu das ruas e está dentro de casa.


Esse fato, apesar de assustador, nos deu um insight poderoso: o resíduo, recurso e fonte de renda e trabalho das cooperativas, está na casa das pessoas. Ele continua ali e em volume cada vez maior, e muitas pessoas estão mais atentas a essa geração e a esse descarte, buscando informações de como destiná-lo da melhor maneira.


E foi assim que, de uma névoa densa que nos encobria e nos cegava, conseguimos enxergar uma luz, um norte: era preciso garantir que esse resíduo, em abundância na casa das pessoas, pudesse novamente gerar renda para cooperativas de uma maneira segura e sem expor os trabalhadores a riscos. Era preciso reconectar o indivíduo com o catador, permitindo que o fluxo do resíduo voltasse a acontecer, para que as cooperativas pudessem retomar suas atividades gradativamente.


E foi assim que chegamos à nossa ideia:

E se a gente ofertasse um serviço de coleta de recicláveis - com todos os procedimentos de segurança sanitária necessários no momento - que destinasse o seu resíduo direto para uma cooperativa e a remunerasse pelo serviço prestado?


Aconteceria, claro, com todo cuidado necessário:


👉 1. A gente informa o que pode e não pode ser reciclado e como adotar procedimentos de segurança sanitária e guardar seu resíduo garantindo a segurança dos catadores.

👉 2. Programamos a coleta junto com as cooperativas e iremos até o seu domicílio pegar o seu resíduo.

👉 3. Da sua casa, o reciclável segue para uma cooperativa. Lá, uma pessoa vai separá-lo por tipo de material e dará encaminhamento à indústria. Esse trabalho de separação é todo feito manualmente e a gente considera justo que essa pessoa seja remunerada pelo serviço que ela realiza.

👉 4. Queremos que você saiba para onde seu resíduo vai e o impacto que ele gera: qual foi a cooperativa beneficiada, quanto de renda foi gerado e quantos catadores estiveram envolvidos na operação são informações valiosas.


Acreditamos que, assim, conseguiríamos gerar trabalho e renda para cooperativas de catadores, de uma maneira segura e mais sustentável, não só através do processamento do resíduo, mas também da remuneração pelo trabalho de triagem. Mais do que isso, acreditamos que esse modelo pode ser um estímulo à reflexão para a necessidade de adotarmos novas práticas de consumo e descarte de modo a fomentarmos uma economia circular mais sustentável, justa e participativa.


O nosso projeto está na fase de ideação e em breve queremos lançar um piloto do nosso serviço.

Para isso, estamos fazendo uma pesquisa com o objetivo de sentir um pouco a receptividade das pessoas para a nossa ideia. Essa pesquisa está online e disponível através deste link.


Gostou da ideia? Então responde a pesquisa e, se puder, compartilhe-a com quem possa se interessar.


Nós acreditamos que soluções colaborativas e em rede são o caminho para lidarmos com os desafios do momento e, por isso, convocamos a todos para participar dessa criação conosco! Assim, queremos ativar o que há de mais potente em cada parceiro e cada comunidade para apoiar quem mais precisa nesse momento.


Referências:

¹ https://www.saneamentobasico.com.br/coronavirus-lixo-hospitalar/

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